Ser ou não Ser
Ao nos depararmos com um mito, a primeira questão que se faz é: ele tem ou não tem uma realidade?
Essa grave interrogação e inúmeras outras colocam-se no roll de teorias conspiratórias de intelectuais de menor valia dispostos, ao que parece, negar a realidade existente do Bardo, negacionistas à sua maneira: são os antistratfordianos.
De fato, numerosas teses se opuseram a memória de Shakespeare, seja para defender ou contestar que esse histrião, esse jovem de vida desregrada fosse verdadeiramente o autor de obras-primas como Hamlet, Rei Lear, os sonetos e poemas. Algumas atribuídas erroneamente a Marlowe e Ben Johnson que conheciam nome e fortuna. Marlowe teria sido incapaz de escrever, por exemplo, Hamlet, pois morreu assassinado em 1593.
A história de mais de quatro séculos de disputa pela herança de uma autoria encontra conteúdo denso e divertido em James Shapiro que saborosamente desconstrói todas hipóteses e dúvidas de forma brilhante a respeito do homem de Stratford. Talentoso e preciso descreve ao final um Shakespeare simples e misterioso: um homem de teatro que lia, observava, sabia ouvir e de boa memória. Shapiro é envolvente, psicologicamente sutil. É fundamentalmente, um retorno a sanidade sobre "Quem escreveu Shakespeare?"
É evidente, que se, "Shakespeare não é Shakespeare", todo o culto que lhe prestam em Stratford desmancha-se como um pudim ou, para ser ainda mais inglês, como uma torta de maçã que não atingiu o ponto.
Contudo, prova irrefutável é, que o sucesso suscita sempre o ciúme. O ataque de um escritor de pouca valia, Robert Green, publica em 1597 um panfleto "Greene's Groatworth of with a Million os Repentance" (Um vintém de talento ganho com milhão de arrependimentos) no qual diz ainda: "um corvo pretencioso ornado de nossas plumas", e "com um coração de tigre sob a pele de ator", que se considera como "the only shake-scene", o único capaz, literalmente- todos sabem o que quer dizer shake-, de sacudir uma cena", "coração de tigre" é referência clara a um verso da terceira parte de Henrique VI: "O Tiger's heart wrapt in a woman's hide". Robert Greene morre num catre, na miséria, abandonado por todos.
- Então, ser ou não ser?
A Birthplace
É na Henley Street, onde se encontra o Shakespeare Center que abriga a biblioteca shakespeareana, os visitantes se amontoam sob os tetos baixos, com vigas enegrecidas, do Birthplace, a casa onde nascera Will. Mobiliada em "estado original", como dizem os antiquários e, submetida várias vezes à cirurgias estéticas, dizem os antistratfordianos que não correspondem nem mesmo como seu local de nascimento. Assim, permanecemos no "looping" interminável dos "sem valia" quando se trata das disputas por atenção quanto a realidade de Shakespeare e à paternidade do seu legado para a humanidade.
Will I'am
Stratford-upon-Avon é simpática e encantadora com aproximadamente 30 mil habitantes- não mais de mil e quinhentos na época do ilustre e celebre poeta inglês. Situada no Warwickshire, a duas horas de carro até Londres, próxima de Coventry e de Birminghan. Julian Barnes, escritor britânico, compatriota de Shakespeare, diz: "Na Inglaterra, chove metade do ano, e na outra metade vai chover".

O Bardo de Stratford
Basicamente, tudo em Stratford é consagrado ao celebre dramaturgo, cognominado desde então e respeitosamente de Bardo, percorrendo o mundo ao longo do tempo. Em Verona, na Itália, uma multidão visita anualmente o quarto de Julieta, onde ela teria perdido a virgindade, e o celebre balcão ficou eternizado aos curiosos que talvez nunca tivessem ouvido pronunciar o nome de Shakespeare. Em sua cidade natal esse nome serve-se para tudo. Um Shakespeare Hotel, que recebe aproximadamente duzentos e cinquenta mil turistas por ano. O Tussaud's Shakespearean Waxworks, sucursal do museu de cera de Londres, equivalente do museu Grévin na França, exibindo a reprodução do cidadão ilustre. O White Swan Hotel, O Swan Theatre, o Shakespeare Institute na University of Birminghan.

Shakespeare Memorial Theatre
Anualmente, entre os meses de abril e meados de dezembro, as atenções voltam-se para Shakespeare Memorial Theatre, suntuoso prédio de tijolos vermelhos, edificado às margens do rio Avon e com belos jardins. O primeiro Memorial Theatre foi construído em 1879. Após um incêndio em 1932, foi substituído um moderno complexo. Hoje, é onde a Royal Shakespeare Company apresenta-se regulamente.



